COMUNIDADES TRADICIONAIS, A CONSTRUÇÃO CURRICULAR E A VALORIZAÇÃO DIALÓGICA COM SABERES

Autores

  • Rosangela Gonçalves de Oliveira Instituto Federal do Paraná-IFPR, Campus Curitiba
  • Sandra Terezinha Urbanetz Instituto Federal do Paraná-IFPR, Campus Curitiba

Resumo

Este artigo pretende  problematizar e refletir sobre limites, possibilidades e tensões do uso dos saberes de comunidades de pesca tradicional, como balizadores na construção de currículos de cursos técnicos. Os dados apresentados aqui são parte de uma pesquisa de doutoramento e são pré-categorizados a partir do processo de trabalho na pesca artesanal, como seus instrumentos de captura e estrutura organizacional de beneficiamento até sua venda. As fotografias foram capturadas nas cinco regiões do Brasil, em colônias de pescadores que participaram do Curso Técnico em Pesca, na modalidade Educação a distância, integrada ao Ensino Médio para adultos, oferecido pelo Instituto Federal do Paraná. Atualmente identifica-se contradição nas políticas públicas para essas comunidades pois, por um lado reconhecem seu caráter artesanal definido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), mas por outro ofertam cursos técnicos com premissas desenvolvimentistas. A análise se deu no diálogo de autores como Gramsci, Freire e Berman. Como parte das considerações levantam-se questões de reconhecimento das possibilidades de permanência e de resistência dos saberes dessas comunidades, em oposição à tecnologia da sociedade capitalista, que confronta e impõe o moderno em oposição ao artesanal, constituidor de sua identidade. Essas e outras contradições possíveis na construção e efetivação do currículo, que ora é crítico problematizador, ora apregoa um determinismo tecnológico, são derivações do currículo para trabalhadoras e trabalhadores tradicionais jovens e adultos. Propõe-se, nesse sentido, uma reflexão sobre os currículos engessados que ao não dialogarem com os saberes tradicionai descaracterizam a identidade dessas comunidades.

Biografia do Autor

Rosangela Gonçalves de Oliveira, Instituto Federal do Paraná-IFPR, Campus Curitiba

Professora de Educação Artística pela Universidade Feevale (1988), Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2007), Doutora em Tecnologia e Sociedade pela UTFPR com sanduíche na Universidade de Lisboa/Instituto de Educação. Atualmente é docente dedicação exclusiva do Instituto Federal do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Adultos e Educação e Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação de Jovens e Adultos, Educação Técnica, ProEJA, Educação e televisão, Educação e comunicação e alfabetização de adultos.

Sandra Terezinha Urbanetz, Instituto Federal do Paraná-IFPR, Campus Curitiba

Graduação em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná (1991). Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2000). Doutorado na Universidade Federal do Paraná, na área de Educação e Trabalho (2011). Pós Doutorado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH - 2013-2014). Pós Doutorado pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto - Portugal (2015). Professora concursada do Instituto Federal do Paraná (2010), Campus Curitiba, professora da Pós Graduação em Educação Profissional Técnica em Nível Médio, disciplina: Trabalho e Educação. Docente da Pós Graduação em Educação Profissional Técnica em Nível Médio e do Programa de Mestrado em Educação Profissional - ProfEPT, disciplina: Bases Conceituais da EPT. Diretora de Ensino Médio e Técnico - PROENS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa: Trabalho, Educação e Tecnologia Social - TRETS. Projetos de Pesquisa: Formação de Professores e Os egressos do Ensino Médio Técnico. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Didática e Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas: Trabalho e Educação, Formação de Professores e Educação Profissional.

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Publicado

2021-07-27